Origens do Vitral

        Os vitrais, segundo textos de Prudence, de Tertullien, e de Paul le Silenciaire, estavam presentes desde as primeiras basílicas cristãs e em Hagia Sophia, na Constantinopla e, segundo estudos arqueológicos, esses eram painéis estruturados por estuque ou mármore. Também, alguns exemplares da técnica foram preservados em certos países mulçumanos. Já no Ocidente, foram encontrados vitrais que podem remontar ao período Merovíngio e aos séculos VII e IX. Ainda, há indícios de vitrais datados do século X com representações de figuras ou de cenas históricas, sendo a imagem humana mais antiga já documentada do século IX-X, encontrada em escombros em Lorsch, cidade na Alemanha.

        Entretanto, a técnica do vitral floresceu na Europa Medieval, notadamente na França durante o século XII, com a adoção dessa linguagem estética catedrais góticas. Anteriormente, as peças de vidro que formam os painéis de vitrais eram unidas utilizando de gesso, pedra, mármore ou madeira. Já na arquitetura gótica, a evolução da técnica, adotando-se o chumbo e o ferro como conector das peças e o desenvolvimento dos arcobotantes, permitiu a criação de enormes janelas vidradas nas Igrejas. Dessa forma, a luz natural, passando por entre finos pedaços de vidro colorido, criava dentro das Catedrais uma aura mística e envolvente.

        Relacionando-se com o contexto ao qual o vitral seria inserido, os painéis poderiam ser compostos de desenhos geométricos, arabescos, brasões e monogramas, além de representações históricas e/ou bíblicas, além do uso simbólico de certas cores. Nas catedrais góticas, por exemplo, os vitrais apresentavam a presença marcante do vermelho e do azul escuro, cores simbólicas no cristianismo medieval.

        Nesse contexto, as imagens e cenas bíblicas tornavam as divindades presentes e serviam como uma ferramenta de ensino do catolicismo para a população majoritariamente iletrada da época, mesmo que, em muitos casos, a iconografia dessas representações se mostrassem complexas e em lugares distantes do olhar contemplativo do fiel. Dessa forma, os vitrais no medievo eram um importante guia para o povo, além de ser uma das primeiras artes góticas da história.

        Posteriormente, essa linguagem artística foi incorporada a outros ambientes e em distintos estilos arquitetônicos como uma forma de ornamentação, ainda que exista a manutenção da técnica e de certos motivos tipológicos. Assim, é evidente a importância da transmissão de conhecimento intergeracional como característica da história dessa técnica, aspecto responsável pela permanência, na atualidade, dos vitrais.

        Já no Brasil, é ainda na primeira metade do século XVIII que aparecem os primeiros indícios da comercialização de vidros na cidade do Rio de Janeiro, já existindo, porém, lojas de vidro e o ofício de vidraceiro. Entretanto, é em uma lista alfandegária de produtos importados de 1766 que aparecem, pela primeira vez nos registros, classificações de diversas especificações de vidros, dentre elas, “vidros cristalinos com pinturas de figuras”, indicando a importação dessas.  (CAVALCANTI,  2004,  p.320).

        Posteriormente, a partir do século XIX, a retomada do gosto pela arquitetura gótica provoca o ressurgimento da indústria do vitral tanto na Europa quanto no Brasil. Nas décadas de 1870 e 1880, surgem edificações no Rio de Janeiro que remetem a esse estilo, como a  Igreja Metodista do Catete (1886), o Real Gabinete Português de Leitura (1887) e a Igreja  Imaculada Conceição (1886-1892). Assim, torna-se comum, a partir deste período, a  instalação de vitrais nas antigas janelas de vidraças transparentes, além dos indícios das primeiras intenções de formação de um mercado, seguindo as tendências europeias, que visassem o consumo dos vitrais integrados às residências.


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