Técnica de Produção

        O vidro é feito, primordialmente, a partir da fusão de sílica a temperaturas de 1200 a 1500 graus celsius, podendo ser acrescido de outras substâncias que podem alterar suas propriedades de resistência, transparência ou coloração. Na técnica tradicional de fabricação, as peças de vidro eram provenientes do achatamento, por rotação rápida, de bolas e cilindros de vidro soprados, que eram posteriormente achatados e cortados. Já o vidro de elenco plano, usado na Antiguidade e durante a Alta Idade Média, na arte bizantina e mais raramente no Ocidente, estabeleceu-se como principal técnica para a produção de janelas, tendo como vantagem essencial a grande uniformidade de superfície e a transparência, enquanto no método tradicional os vidros soprados apresentam desigualdades de material e coloração. 

        Para a produção dos vitrais, o vidro é colorido em sua massa no momento da fusão da sílica a partir da adição de diversos óxidos metálicos. No entanto, há também a fabricação de vidros "chapeados" desde o século XIV, obtidos pela justaposição, no momento do sopro, de vários filmes de cores diferentes, técnica que aumenta a translucidez dos vidros de cores fortes e permite o trabalho de gravura sobre o vidro.

        Sobre a tradição do vitral, o processo manual de produção das obras baseia-se na memória e na transmissão do conhecimento entre gerações e ao longo dos séculos, ressaltando-se a permanência do saber-fazer uma vez que a prática dos ateliers pouco se alterou. Dessa forma, a definição básica de um painel de vitrais é a justaposição de vidros, coloridos ou não, interligados por uma calha de chumbo, e esse processo se encontra amadurecido desde a Idade Média. 

        Além de receberem a coloração no início do processo de fabricação, o vidro pode receber pinturas à base de óxidos metálicos para criar detalhes a partir da técnica francesa “grisaille”. No período medieval, as ligas de chumbo e barras de ferro escuras mantinham os painéis de vidro estáticos, criando um contraste visual entre as suas colorações e os tons coloridos e luminosos dos vidros. 

Tipos de ligas de chumbo.

        Entendendo-se o processo de fabricação primária dos vidros, busca-se agora a compreensão da técnica total de construção dos painéis, que envolve distintas e sucessivas operações. Em um primeiro lugar, os copos cilíndricos ou perfis planos de vidro são cortados com o auxílio de um instrumento composto de ponta de ferro - utilizado quente - ou de diamante, seguindo um desenho previamente estabelecido por um mapa. Posteriormente, as peças são montadas e pintadas com tinta específica - técnica do grisaille -, misturando-se óxidos metálicos e diluentes.

        Em um terceiro momento, os pedaços de vidro são levados ao forno em uma temperatura de aproximadamente 600°C para recozimento, etapa que permite a incorporação dos pigmentos nos poros do vidro, tornando a pintura permanente e não mais superficial. Depois, as peças são encaixadas e conectadas às ligas de chumbo soldadas umas às outras. Por fim, o painel é submetido a um processo de niquelagem, momento em que o chumbo ganha coloração que se aproxima do preto. Uma vez prontos, os painéis são colocados nos vãos das edificações.

        Observamos, também, algumas peculiaridades próprias de certas etapas na evolução da arte do vitral. Por volta de 1300, surgia o processo de amarelo prateado, consistindo em um corante à base de sais metálicos que, uma vez cozido, confere uma tonalidade amarela muito transparente ao vidro. Já no século XVI, percebe-se o uso de esmaltes compondo camadas superficiais de tintas vitrificadas azul, verde e violeta. Três séculos depois, a maioria dessas técnicas foram identificadas e passaram a ser utilizadas novamente.

        Além disso, uma prática estabelecida no cotidiano dos ateliers pelos vitralistas trata-se do cartão, palavra usada para nomear o projeto de concepção do vitral, sendo ele a base sobre a qual o vitralista trabalha, adequando a imagem a ser representada à técnica. Nele, há a ilustração do artista, com o uso de aquarelas e nanquim, e uma previsão dos recortes de vidro a serem realizados, assim como os caixilhos de chumbo mais adequados. Ademais, independente das dimensões do painel, os cartões eram criados em escala reduzida que, em geral, se aproximava ao tamanho A4.

Gastão Formenti produzindo um cartão para um vitral. 

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